
PARTE 2: Manuel ficou parado, encarando a mensagem na tela do celular. O remetente não tinha nome, apenas um número desconhecido. Como alguém poderia saber que ele estava verificando aquele assento? Quem poderia estar o observando? Ele engoliu em seco enquanto guardava o objeto — uma pequena caixa de metal — no bolso interno do paletó. Olhou pela janela do ônibus: a rua estava vazia, apenas algumas luzes acesas nas casas ao longe. Nada que sugerisse que alguém o estivesse observando… mas a mensagem provava o contrário.
Naquela noite, em casa, Manuel colocou a maleta sobre a mesa. Hesitou por alguns segundos antes de abri-la; parte dele temia que o que encontrasse confirmasse suas suspeitas. Quando finalmente a abriu, seu coração disparou. Dentro havia três notas dobradas, uma pequena chave e um pedaço de papel amassado. No papel, escrito com uma caligrafia infantil, havia uma frase que o fez gelar até os ossos:
“Para que ele não fique com raiva.”
Manuel sentiu um aperto no estômago. Aquilo não era apenas um objeto esquecido: era a prova de que a garota estava passando por algo terrível. Dinheiro para que ela “não ficasse com raiva” — quem? E a chave? Era da casa dela? De uma gaveta? De um quarto?
Ele pensou em chamar a polícia, mas algo o impediu. Não tinha informações suficientes, e uma atitude precipitada poderia colocar Lucía em perigo. Além disso, aquela mensagem de aviso indicava que alguém não o queria envolvido.
Na manhã seguinte, Manuel tomou uma decisão: conversaria com Lucía. Não diretamente — ele não queria assustá-la —, mas de uma forma que a fizesse sentir que podia confiar nele.
Quando a buscou, percebeu que ela estava usando o mesmo suéter do dia anterior. Assim que ela entrou no carro, ele lhe deu um sorriso gentil.
“Bom dia, Lucia”, disse ele em voz calma.
Ela mal ergueu os olhos. Suas mãos tremiam levemente enquanto apertava a mochila contra o peito.
Durante a viagem, Manuel notou pelo retrovisor que a moça estava inclinada para a janela como de costume. E então ele viu: um hematoma no pulso dela, quase imperceptível sob a manga.
Seu coração afundou.
Ao chegarem à escola, em vez de a verem sair como de costume, Manuel aproximou-se da porta dos fundos e falou em voz baixa.
—Lucía, se você precisar de ajuda… qualquer coisa… estou aqui, tá bom?
A garota parou, olhou para ele com olhos arregalados e assustados. Parecia querer dizer algo, mas não conseguia. Finalmente, desceu da bicicleta em silêncio.
Naquele mesmo dia, após o passeio da tarde, Manuel encontrou algo novo no banco de Lucía: um desenho. Parecia ter sido feito às pressas. Representava uma pequena casa com uma janela e, dentro dela, uma figura grande com os braços erguidos. À sua frente, uma figura pequena e encolhida.
Na parte inferior havia uma palavra escrita em letras maiúsculas:
“AJUDA.”
Manuel sentiu um arrepio na pele. Não era mais um palpite. Era um grito silencioso. E ele precisava agir… mas como, sem colocar a garota em risco?
Mal sabia eu que naquela mesma noite receberia outra mensagem, ainda mais perturbadora que a anterior:
“Nunca mais olhe debaixo do assento.”
Manuel não conseguiu dormir naquela noite. Ficou sentado à mesa da cozinha, com o desenho de Lucía à sua frente, junto com o estojo, a chave e o pedaço de papel amassado. Repassou repetidamente o que sabia: uma menina que chorava todos os dias, um objeto escondido debaixo da cadeira, mensagens ameaçadoras, um desenho implorando por ajuda. Era evidente que Lucía estava passando por algo sério, mas ele não podia simplesmente invadir a casa dela ou acusar alguém sem provas.
Às seis da manhã, ela tomou uma decisão: conversaria com a conselheira escolar. Sabia que os profissionais da escola eram treinados para lidar com casos de abuso e, sobretudo, podiam intervir sem colocar a menina em perigo imediato.
Ao chegar à escola, ele esperou pacientemente até que a orientadora, Sra. Valdivia, viesse ao seu escritório. Manuel explicou tudo em detalhes, mostrando-lhe o desenho, a chave e o estojo. A orientadora franziu a testa, preocupada.
“Isto é sério, muito sério”, disse ele. “Não podemos ignorar. Mas precisamos ter cuidado. Primeiro, vou falar com a equipe de proteção à criança da escola. E preciso saber de uma coisa, Manuel: será que mais alguém sabe que você descobriu isso?”
Manuel hesitou.
“Recebi mensagens de um número desconhecido”, disse ela finalmente. “Basicamente, ameaças.”
Ela abriu os olhos com preocupação.
—Então alguém está observando. Não podemos demorar muito.
Naquele mesmo dia, a orientadora e a diretora informaram os serviços sociais e a polícia. Eles iniciaram discretamente a investigação, sem chamar a atenção de ninguém na escola. Enquanto isso, Manuel continuava seu trajeto como de costume, fingindo não saber de nada. Mas seu coração disparava toda vez que Lucía entrava no ônibus. A menina, porém, parecia um pouco diferente. Ela ainda estava triste, sim, mas agora o olhava com um lampejo de esperança.
Três dias depois, a polícia conversou com Manuel em particular. Eles haviam identificado o dono do número que enviava as mensagens: pertencia ao padrasto de Lucía, um homem com histórico de violência doméstica. A chave encontrada na caixa era compatível com um pequeno cadeado que trancava uma caixa na casa da menina. Quando os policiais entraram com um mandado, encontraram dinheiro dentro da caixa e um caderno onde o homem havia anotado “punições” e “advertências”.
O padrasto foi preso imediatamente.
Lucía e sua mãe foram levadas para uma casa segura enquanto os procedimentos legais eram iniciados. A mãe, visivelmente perturbada, confessou que também estava recebendo ameaças constantes e não sabia como proteger a filha.
A notícia chegou à escola como um murmúrio discreto. Ninguém mencionou nomes, mas todos sabiam que algo sério havia acontecido.
Dias depois, o conselheiro ligou para Manuel.
—Lucía quer te ver —ele disse a ela—. Ela disse que quer te dar uma coisa.
Quando ele chegou, a menina aproximou-se dele timidamente. Ela não usava mais o suéter gasto; agora vestia um novo e limpo, e seu rosto demonstrava um leve alívio. Ela lhe entregou um desenho: um ônibus amarelo com um motorista sorridente. E ao lado, uma palavra escrita com letra firme:
“OBRIGADO.”
Manuel sentiu um nó na garganta. Ele não tinha sido um herói. Apenas ouvira, observara e fizera o que era certo. Mas para Lucía, aquilo significava tudo.
Naquele dia ele entendeu algo: às vezes, um simples olhar atento pode mudar uma vida.
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