Estávamos num recital da escola quando um vizinho nos ligou para avisar que nossa casa estava pegando fogo. Naquela noite, meu marido sugeriu que ficássemos na casa da mãe dele. Chegamos tarde e deixamos nossos filhos meio adormecidos no carro para conversar com ela sobre nossa situação.
No início ela foi compreensiva, mas disse ao meu marido: “Você e as crianças podem ficar, mas ela não”, referindo-se a mim. Acabamos passando a noite em nosso carro e nos mudamos para um motel no dia seguinte. Mais tarde, a mãe dele ligou e me ofereceu para ficar na garagem dela, mas recusamos novamente.
Ela não sabia que o carma estava observando suas ações. Cinco meses após o incidente, minha sogra, em lágrimas,
…me ligou do hospital.
A casa dela havia sido atingida por um forte temporal. O telhado cedeu e parte da estrutura ficou comprometida. Ela estava ilesa, mas não podia voltar a morar lá até o reparo ser feito.
“Eu não tenho para onde ir…”, ela soluçava. “Será que posso ficar com vocês por uns dias?”
Por um instante, eu senti aquela pontada de lembrança — da noite fria no carro, das crianças encolhidas nos bancos de trás, da humilhação de ouvir que eu não era bem-vinda. Mas, com calma, respirei fundo e respondi:
— “Você e as crianças podem ficar… mas ele não.”
O silêncio dela do outro lado foi ensurdecedor. Eu sabia que o recado tinha sido dado.
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