
Parte I – Começos em campos de poeira e arroz
Nasci em uma família incompleta, daquelas em que o silêncio substituía as canções de ninar e as ausências pesavam mais que a presença. Meus pais se separaram quando eu mal conseguia andar. Minha mãe, Lorna, me levou de volta para sua cidade natal, Nueva Ecija, um lugar onde o horizonte era apenas arrozais, sol escaldante e os sussurros ocasionais de vizinhos que sempre sabiam mais do que deveriam.
Nunca conheci de fato meu pai biológico. Seu nome, seu rosto, sua voz — tudo se confundia em uma névoa de memórias incompletas e perguntas sem resposta. O que eu conhecia era a fome, a dor da saudade de algo que eu não conseguia nomear e a solidão de ver outras crianças correndo para os braços de seus pais enquanto eu segurava apenas a mão calejada da minha mãe.
Então, quando eu tinha quatro anos, minha mãe se casou novamente. O nome dele era Ben — embora todos o chamassem de Mang Ben . Ele era um operário da construção civil, sem nada a oferecer além de um corpo frágil, escurecido por anos de trabalho sob o sol, e mãos tão ásperas que pareciam poder lixar madeira sozinhas.
No começo, eu não gostava dele. Ele saía cedo, chegava tarde, com a camisa encharcada de suor e o cabelo duro de poeira. Ele cheirava a cimento e aço enferrujado. Para uma criança, ele era um estranho invadindo o pequeno espaço que eu dividia com minha mãe.
Mas, silenciosa e persistentemente, ele mudou tudo.
Quando minha bicicleta velha quebrou, ele a consertou.
Quando minhas sandálias rasgaram, ele as remendava.
Quando eu sofria bullying, ele não me repreendia como minha mãe fazia. Em vez disso, ele subia em sua bicicleta enferrujada, pedalava até a escola e esperava do lado de fora. Depois, no caminho para casa, ele apenas dizia:
— Não vou te obrigar a me chamar de pai. Mas saiba disso: Tatay sempre estará ao seu lado se precisar dele.
Naquela noite, sussurrei a palavra Tatay . E a partir daí, ele era meu.
Parte II – Lições de mãos calejadas
Minha infância foi definida não pela riqueza, mas pela sua presença discreta. Ele nunca teve muito, mas deu tudo.
Todas as noites, não importava o quão cansado estivesse, ele chegava em casa e perguntava:
— “Como foi a escola hoje?”
Ele não conseguia me ajudar com álgebra, não conseguia dissecar poemas nem explicar teorias científicas. Mas conseguiu me ensinar a lição mais importante de todas
:
“Você pode não ser o melhor da turma, mas estude bastante. Aonde quer que você vá, as pessoas respeitarão seu conhecimento.”
Nossa família vivia com muito pouco. Minha mãe cultivava a terra, ele carregava sacos de cimento e soldava vigas de aço. No entanto, quando eu sonhava tranquilamente com a faculdade, ambos choravam — não de medo, mas de orgulho.
Quando passei no vestibular para uma universidade em Manila, minha mãe chorou copiosamente. Tatay sentou-se na varanda, fumando um cigarro barato, em silêncio, mas radiante de orgulho.
No dia seguinte, ele vendeu sua única moto. Com esse dinheiro e as parcas economias da minha avó, eles juntaram o suficiente para me mandar para a escola.
Parte III – A Viagem a Manila
O dia em que ele me trouxe para a cidade foi o dia em que vi a profundidade do seu amor.
Ele usava um boné de beisebol velho, uma camisa amassada, sapatos que apertavam seus pés e manchas de suor escorrendo pelas costas. Nas mãos, carregava não apenas minha bagagem, mas também uma caixa de “presentes da cidade natal”: alguns quilos de arroz, um pote de peixe seco e sacos de amendoim torrado.
Antes de me deixar no portão do dormitório, ele disse baixinho:
— Faça o seu melhor, criança. Estude bastante.
Mais tarde, ao desempacotar a comida da minha mãe embrulhada em folhas de bananeira, encontrei um pequeno bilhete dobrado. Dentro, com sua caligrafia desajeitada, dizia:
— Tatay não entende o que você está estudando. Mas seja lá o que for, Tatay vai se esforçar. Não se preocupe.
Chorei no meu travesseiro naquela noite, agarrando o bilhete como se fosse uma tábua de salvação.
Parte IV – O Peso do Sacrifício
A faculdade foi difícil. A pós-graduação foi ainda mais difícil. Eu trabalhava à noite dando aulas particulares para crianças, traduzia documentos e vivia de macarrão instantâneo. Em todos os feriados, quando voltava para casa, encontrava Tatay mais magro, com as costas mais arqueadas e as mãos mais rachadas.
Certa vez, eu o vi sentado na base de um andaime, ofegante depois de carregar sacos de areia. Meu coração se partiu. Eu disse a ele para descansar. Ele apenas sorriu e disse:
— “Tatay ainda consegue. Quando me sinto cansado, penso: estou criando um doutorado. Isso me deixa orgulhoso.”
Não pude dizer a ele que um doutorado significaria anos ainda mais longos de sacrifício. Em vez disso, segurei sua mão e silenciosamente prometi a mim mesma:
Eu vou terminar isso — por ele.
Parte V – A Defesa da Tese
Finalmente chegou o dia: minha defesa de doutorado na UP Diliman.
Implorei a Tatay que comparecesse. A princípio, ele recusou, dizendo que não tinha roupas adequadas para tal evento. Mas, depois de muita insistência, pegou um terno emprestado com o primo, calçou sapatos um tamanho menor que o seu e comprou um chapéu novo no mercado do bairro.
Ele sentou-se na última fileira, com as costas eretas e em silêncio, sem tirar os olhos de mim.
Defendi minha tese com as mãos trêmulas, mas com a voz firme. Quando o júri finalmente disse:
“Parabéns, Doutor”, olhei para a multidão. Os olhos de Tatay estavam marejados, seu rosto brilhava como se todos os anos de trabalho tivessem se cristalizado naquele único momento.
Parte VI – Um reconhecimento inesperado
Depois, professores e colegas vieram me cumprimentar. Meu orientador, Professor Santos , apertou minha mão com firmeza. Em seguida, virou-se para cumprimentar minha família.
Quando chegou a vez de Tatay, ele parou de repente. Seus olhos se estreitaram em reconhecimento.
— “Você é… Mang Ben, não é?”
Tatay piscou surpreso.
— Sim, senhor… mas como o senhor me conhece?
A expressão do Professor Santos se suavizou.
— “Eu cresci perto do canteiro de obras em Quezon City, onde você trabalhava. Nunca esquecerei o dia em que você carregou um homem ferido de um andaime, mesmo você mesmo estando ferido. Você salvou a vida dele. Aquele homem era meu tio.”
O silêncio tomou conta da sala. Por um instante, os títulos, os diplomas, os títulos — tudo desapareceu. Quem estava no centro não era eu, mas o homem que me carregou, não em seus ombros, mas em seu sacrifício.
Parte VII – A verdadeira medida de um pai
O mundo pode ver Tatay apenas como um operário da construção civil. Mas, para mim e para muitos que cruzaram seu caminho, ele foi um construtor de mais do que casas. Ele construiu segurança. Ele construiu dignidade. Ele construiu futuros.
Meu diploma de doutorado pode ter meu nome, mas cada letra está gravada com o suor que escorria de sua testa, os calos que rasgavam suas mãos, as noites em que ele chegava em casa exausto, mas ainda perguntava:
“Como foi a escola hoje?”
Pais não são definidos pelo sangue, mas pelo amor. E, às vezes, o homem que cheira a cimento e poeira é aquele que te carrega até os seus sonhos.
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